Como Gerir a Dor, Lesões e o Treino em Adolescentes – Parte 1/3

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Escrito por Steven Collins info

Introdução

Tendo participado de diversos grupos de interesse especial em fisioterapia e em força e condicionamento voltados para jovens, observei algumas tendências comuns e participei de muitas discussões interessantes sobre a gestão de lesões e dores em adolescentes. O principal erro que vejo os clínicos e treinadores cometerem é tentar tratar lesões e dores em jovens da mesma forma que fariam com um adulto com uma condição semelhante. Portanto, o objetivo deste blog é fornecer um guia para os profissionais seguirem ao lidar com lesões e dores em adolescentes.

Este blog será dividido em 3 partes para facilitar a leitura e direcionar os clínicos às informações mais relevantes. São elas:

  • Parte 1 – Anatomia e fisiologia do crescimento e desenvolvimento, juntamente com sinais de alerta pediátricos específicos.
  • Parte 2 – Considerações para criar uma intervenção eficaz com crianças/adolescentes e as implicações do modelo de desenvolvimento atlético a longo prazo (LTAD).
  • Parte 3 – Finalmente, abordaremos algumas condições comuns encontradas em clínicas. Também apresentaremos um exemplo de como o manejo mudaria dentro do framework LTAD, dependendo da idade, condição apresentada e objetivos.

Vamos direto à parte 1!

 

Fases de Crescimento/Maturação

Osso:

O crescimento e desenvolvimento na infância são caracterizados tanto pelo crescimento longitudinal dos ossos quanto pela subsequente remodelação óssea para lidar com as forças aplicadas a eles. Dos 4 anos até a puberdade, há um acúmulo uniforme de massa e comprimento. A partir daí até a adolescência média, o crescimento dos ossos longos dos membros supera a deposição de densidade óssea e o crescimento axial, o que pode levar a características específicas, como fraturas em galho verde nos esqueletos imaturos.

O evento mais importante a destacar aqui é a fase de velocidade de crescimento máxima (PHV, na sigla em inglês), um momento durante a puberdade inicial em que o crescimento dos ossos longos acelera. Nesta fase, a placa epifisária começa a fechar por meio da ossificação da cartilagem na linha epifisária, e ocorre maior calcificação na epífise, formando um osso mais longo. Tradicionalmente conhecida como “o estirão de crescimento”, essa fase pode ser uma área de vulnerabilidade no esqueleto imaturo. A taxa máxima de deposição óssea geralmente ocorre cerca de 6 a 12 meses após o PHV. O status hormonal, nutricional e a atividade física do indivíduo impactam significativamente o desenvolvimento ósseo (1-4).

 

Dica Clínica:

Uma pergunta rápida para determinar a associação do PHV com a apresentação clínica é perguntar sobre mudanças recentes no tamanho do calçado (devido ao crescimento distal dos ossos longos). A ausência de PHV (aproximadamente 11,5 anos para meninas e 13,5 anos para meninos) em desportos sensíveis ao físico, como balet e ginástica, deve ser observada como um possível sinal de Deficiência Relativa de Energia nos Desportos (RED-S), e discussões relevantes sobre encaminhamentos devem ser feitas.

 

Tendões/Ligamentos:

Os tendões e ligamentos na infância/adolescência são tecidos altamente ativos, desenvolvendo grande parte da estrutura que será gradualmente modificada na idade adulta. Durante a infância, esses tecidos possuem um ambiente altamente celular, com proteínas de colágeno, responsáveis pela transmissão de força na matriz extracelular (ECM), relativamente escassas. Em resposta à carga durante o crescimento, essas células sinalizam uma maior composição de proteínas na ECM, especialmente em áreas de alta força (Junção Músculo-Tendínea e Enteses (junção teno-óssea)/Apófises). Durante o crescimento, as apófises são locais importantes de dor e risco de lesão, pois o tecido tendinoso cresce longitudinalmente mais devagar do que o osso subjacente, gerando uma tensão de tração nesse ponto (5).

 

Músculo/Coordenação Neuromuscular:

A resposta hipertrófica ao carregamento mecânico em crianças/adolescentes é limitada até que a puberdade seja alcançada e as hormonas sexuais sejam suficientes. A força e o controle neuromuscular de um segmento articular ainda podem ser otimizados por meio de mecanismos neurológicos dentro do contexto do efeito de repetição de treinamento. Isso difere do período pós-puberal, quando maior ênfase pode ser colocada na hipertrofia num plano periodizado para estabilidade articular. Além disso, o período de PHV é frequentemente associado a mudanças negativas na coordenação, pois o atleta deve se adaptar ao crescimento rápido do corpo. A gestão da carga de treino é necessário devido ao aumento do risco de lesão durante esse período (1,6).

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Coisas que Não Devem Passar Despercebidas

Os 5 “S” dos Sinais de Alerta Pediátricos

  1. Sintomas (Symptoms): Embora seja comum haver pontos de stress durante o crescimento e desenvolvimento devido às diferentes taxas de desenvolvimento dos tecidos, sintomas que se manifestam em qualquer um desses locais devem ser pelo menos sinalizados.
  2. Sistémico (Systemic): Qualquer coisa que não se apresente como um problema isolado em uma única articulação ou que mostre sinais de afetar mais do que apenas o sistema musculoesquelético. A artrite séptica é uma emergência ortopédica comum em crianças. Portanto, fique atento a sinais de infecção.
  3. Simetria (Symmetry): Embora pequenas assimetrias no crescimento sejam completamente normais, qualquer coisa muito evidente não deve ser ignorada. Pense em grandes diferenças no comprimento das pernas e no alinhamento da coluna.
  4. Displasia Esquelética (Skeletal Dysplasia): Padrões anormais de crescimento ósseo em crianças pequenas precisam de ser considerados e encaminhados adequadamente.
  5. Rigidez (Stiffness): Condições como artrite juvenil ou outras condições sistémicas podem-se manifestar como rigidez articular (7).

 

Fraturas de Salter-Harris

Não está no escopo deste blog detalhar todos os tipos, mas para aprofundar o aprendizado, recomendo consultar fontes adicionais (8). O princípio básico é que essas fraturas ocorrem ao longo ou através da linha epifisária e podem impactar o crescimento e o desenvolvimento ósseo. É importante não ignorar essas fraturas, pois podem se manifestar como dor articular, mas as consequências podem ser muito maiores para o desenvolvimento anormal de uma criança. Os sinais comuns relacionados a fraturas devem direcionar essa investigação.

 

Epifisiólise Femoral Proximal

Essa é uma emergência ortopédica pediátrica que se apresenta com dor no quadril ou joelho (ou ambos), mancar e rotação interna do quadril limitada ou dolorosa (9).

 

Espondilose / Espondilolistese

Qualquer dor nas costas em crianças que coincida com mudanças na carga de treinamento, em desportos baseados em físico/peso com restrições dietéticas, deve ser sinalizada. Também é importante suspeitar em desportos com extensão e rotação repetitiva da região lombar (10).

 

Conclusão

Pronto, a parte 1 está finalizada! Espero que tenha sido útil. Agora, deve ter uma melhor compreensão da anatomia e fisiologia dos adolescentes e de como identificar alguns sinais de alerta pediátricos.

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